11/27/2006

...

Os anos passam, eu cansado de escrever poesia, por companhia, apenas a velhice.
Numa outra vida, o acaso fez de mim poeta, numa outra existência, o destino fez de mim pintor.
Incapaz de lançar fora usos esquecidos, o mundo me conhece poeta e pintor, sabe o meu nome, identifica o meu estilo.
O meu coração ainda ninguém conhece.
Wang Wei (701-761)
Frank Howell-October night


11/24/2006

imaginarium tempestuoso

Chovia cá dentro.
As portadas das janelas batiam com força, e o vento assobiava no esplendor da ameaça.
Pingava sobre os meus pés, as meias molhadas, os passos encharcados, pó e incenso boiando no soalho.
Chovia cá dentro, mãe minha.
Eu estava só e muito pouco seco, não chorava por temer afogar-me, resvalei nos corredores pelos rios da memória, quase sem luz e o corpo gelado.
Chovia tudo, desta vez.
Sem saber como tudo iria acabar, deixei-me arrastar, respirando a custo.
A minha pele enrugada não sentindo mais as roupas, o meu olhar turvo por um cinzento liquido.
Paredes de ondas castigando-me agora, a vida já indecisa, a memória híbrida.
Chovia cá dentro, mãe ainda, e eu assim roubado à minha solidez, convergia para a tua imagem no assombroso remoinho.
(N.G.)
Kazuo Chiraga - a deep water

11/17/2006

Modern Times?

Parabéns a Bob Dylan, que após trinta anos, vê de novo um album seu no primeiro lugar dos tops de vendas americanos.
"Modern Times" é um disco maravilhoso, com uma energia vibrante,que pessoalmente não me canso de ouvir.
A qualidade de som tem qualquer coisa, que só podia vir de um artista que sabe bem o que ela representa.
Será que as tabelas de tops estão a mudar, (como já li em alguns titulos sensacionais sobre este acontecimento) ou será que o rapaz de 19 anos, Robert zimmerman, adolescente boémio apaixonado pelos blues e pela poesia beat, ao rumar para Nova York e integrando-se na comunidade folk de Greenwich Village, adoptaria para sempre um nome que o mundo tão depressa não iria esquecer?!