7/25/2007

Daniel Pennac - o paraiso dos papões

Um amigo francês que vive em Portugal passou-me este autor, absolutamente admirável, do qual deixo um excerto de " paraiso dos papões" , bem traduzido para a terramar por Lumir Nahodil:

" Os horários do dia deveriam prever um momento, um preciso momento do dia, em que a gente pudesse exercer a autocomiseração sobre a nossa sorte.
Um momento específico.
Um momento que não fosse ocupado nem pelo «bules» nem pelos «comes», nem pela digestão, um momento perfeitamente livre, uma praia deserta onde pudéssemos, miseros, medir a extensão do desastre.
Na posse do resultado de tais averiguações, o dia seria melhor, a ilusão banida , e a paisagem claramente balizada.
Mas ao pensarmos na nossa infelicidade entre duas garfadas, com o horizonte ocupado pelo iminente regresso ao trabalho, desorientamo-nos, avaliamos mal, imaginamo-nos menos ensarilhados do que de facto estamos.
Às vezes, até chegamos ao ponto de nos julgarmos felizes."

7/09/2007

Sentes, amigo
O nosso espectro arrancado do corpo?
Sentes que desperdiçamos corpo?
Que o violamos como se não fosse nosso...
Sentes mesmo;
O fogo maior que nunca despertamos?
Sentes o poema a querer sair de si?
Dele próprio como nós de nós...
Sente amigo
As minhas palavras como no teatro.
Não é dele feita a vida?
Não é isso real?
Não importa que o desejo permaneça.
Tu também permaneces, e antes do era já os seres...
Tu permaneces.