11/24/2006

imaginarium tempestuoso

Chovia cá dentro.
As portadas das janelas batiam com força, e o vento assobiava no esplendor da ameaça.
Pingava sobre os meus pés, as meias molhadas, os passos encharcados, pó e incenso boiando no soalho.
Chovia cá dentro, mãe minha.
Eu estava só e muito pouco seco, não chorava por temer afogar-me, resvalei nos corredores pelos rios da memória, quase sem luz e o corpo gelado.
Chovia tudo, desta vez.
Sem saber como tudo iria acabar, deixei-me arrastar, respirando a custo.
A minha pele enrugada não sentindo mais as roupas, o meu olhar turvo por um cinzento liquido.
Paredes de ondas castigando-me agora, a vida já indecisa, a memória híbrida.
Chovia cá dentro, mãe ainda, e eu assim roubado à minha solidez, convergia para a tua imagem no assombroso remoinho.
(N.G.)
Kazuo Chiraga - a deep water