10/12/2006

um rapaz optimista

Do mais fundo dos meus ais, saiem ondas espumosas e negras, que ao desaguarem na luz da razão, logo se espalham na inexistência.
Do mais antigo dos meus medos saiem soldados em feliz fim de guerra, regressando à sua branca criação, após a mais absurda destruição.
Do mais fundo do meu ego, sai um suspiro, que mais parecia ser, um grito.
Do mais fundo do meu olhar, saiem por fim, as imagens mais enganadoras.
Se tudo sai, depois de entrar;
Se tudo passa, depois de chegar, do mais fundo do meu gesto bruto, sai por fim uma dança que quero contemplar.
No mais fundo da dúvida, não existe luz para se ver a dúvida;
Do fundo do mundo emerge um grande calor, como no fundo do meu ser emerge este fogo, ascendendo a todo o fora.
A luta é indigente, quanto mais me é indiferente, pois o que sinto não posso negar, se não estou morto ou fora desta vida.
Do mais fundo das minhas palavras, sai toda a confusão que possam ter,
e assim, clarificadas, sua história e seus caminhos eu partilho.
Sem que a nada me oponha, desmentindo ou concordando, todas as palavras me rodeiam de surpresa.
Agora que o sinto, no mais fundo do meu aqui, encontro uma criança, uma e outra vez, e voltado para ela, fico vendo as coisas tal como ela as julga sentir, bem como o poema que tenta construir, e portanto, logo que o vejo, abandono a pressa de me abandonar, e já que aqui estou, aproveito para me saudar, bem como ao tempo que eu vier a demorar.

Dentro do abraço desta nova pessoal, sei que um dia se poderá dizer deste ditado, que foi escrito por um rapaz muito optimista, e dai para aqui, vejo bem o poder que este aqui reserva, e eu por mim recebo.

N.G. 1996
Gravura de Herman Hesse, um companheiro de optimismos.

2 Comments:

Blogger armandina maia said...

Voltei aqui para reler este texto, caminho árduo para encontrar o princípio, num tempo onde quase todos começam pelo fim.
Parabéns, Nuno.

armandina

7:29 da tarde  
Blogger Nuno Gouveia said...

Trata-se de um texto antigo, de 1996, escrito como muitos outros em momentos de graça.
Trata-se mais uma vez do poder do "agora", penaplanicie que sempre tento atingir na escrita.
Nesse "agora" vive sempre um encontro.
Entre o ser e o não ser, entre o bem e o mal, entre nós dois, voltados um para o outro.
E como tão bem nos dizes, desconhecida companheira, o encontro entre o inicio e o fim, de que é feito o tempo de uma vida.
A simplicidade destas conclusôes, seria já motivo suficiente para sorrirmos inteiros, mas a pressa de ganhar acaba por fazer perder.
Quando é que vamos aprender a confiar,
se não uns nos outros, naquilo que nos criou, seja lá o que for...

Obrigado eu, Armandina.
Obrigado eu.

1:34 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home