em memória da memória
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Estou a voar.
Uma gaivota passa-me por cima.
Uma outra passa-me por baixo.
Também sou gaivota, entendo então, mas foi nesse instante que se deu a minha queda, não para baixo, mas para cima.
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Afastava-me do mundo a grande velocidade, e via a chuva a cair para cima.
Não entendia o que me estava a acontecer. Como podia eu furar assim as nuvens?!
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Molhava-me e secava-me interruptamente, e sem saber qual seria o meu destino, despedi-me das minhas irmães que voavam lá em baixo, mas que para mim estavam cada vez mais alto.
Passei por um periodo incalculável de esquecimento, do qual guardo apenas como recordação, o imenso desejo de lá voltar.
Agora sou um homem que observa as gaivotas, enquanto a memória se diverte na espuma do mar.
gaivota: três frames do sucedido por video amador.
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