2/23/2007

Lisbonwood ou o medo americano

Certa vez, durante a expo 98, dei boleia a um americano depois de uma festa no pavilhão da Áustria.
Ele era tão tipicamente americano, que logo um outro eu tomou conta de mim.
Atravessei Lisboa a uma velocidade medonha, sem respeitar sinais de qualquer cor, ou quaisquer perigos insuspeitados.
O americano queixava-se, e eu na minha, acelerava.
Acelerar, acelerar, tua boca deve-se calar.
Se eu era doido?!
Doido a full time ou doido a part time?!
Respondi-lhe que era como nos filmes, que se fazem lá na sua terra.
O americano queixava-se...
Que eu confundia o filme com a realidade, que os filmes são os filmes!
Eu mais ainda no meu outro; acelerar no filme, acabar com o excesso que o homem me causava.
Acabo por dizer: nós por cá preferimos os filmes, os tais...
Os maiores do mundo!
Até ao rossio é sempre a abrir, e ele já aos gritos, quase a esmurrar-me o nariz a grande speed, mesmo com o carro já parado, e eu sorrindo, ele gritando:
ARE YOU INSANE?!
ARE YOU PUSHING ME?!
Sugiro que troquemos os contactos, para o caso de precisar de um driver da próxima vez que venha a Lisboa.
O americano lá subiu ao quarto para ir buscar um cartão, mas eu arranquei dali antes que ele voltasse, e pudesse ainda esmurrar-me o nariz, e o filme acabasse mal para mim, eu que me sentia herói, vitorioso sobre o melhor do mundo, bêbado e vaidoso tão longe de casa.
The end, escrito no vidro pára-brizas, o tejo, a marginal, os créditos, luz intermitente, fita a rolar à vontade.
N.G.
Artwork by: Jeremy Okai Davis-American Hero

P.S. a não ser que dêem boleia a um americano mesmo charlatão, não guiem a altas velocidades, porque isso mata pessoas da forma mais ridicula que se conhece.