1/19/2009

o silêncio do silêncio

Entrou na nossa história no fim - disse-lhe ele.
- Se o meu pai ainda estivesse aqui, podia responder a todas as suas perguntas.
Mas talvez a verdade, ou, como ele costumava dizer, a nossa tragédia humana seja não conseguirmos compreender a nossa experiência, deixá-la escapar por entre os dedos, não a conseguirmos prender, e quanto mais o tempo passa, mais difícil se torna.
Talvez no seu caso tenha passado demasiado tempo e terá de aceitar, desculpe-me dizer isto, que há coisas na sua experiência que não poderá entender.
O meu pai dizia que a natureza nos fornecia explicações para compensar os enigmas que não conseguíamos decifrar.
O bater do sol frio num pinheiro no inverno, a música da água, um remo cortando o lago e o voo dos pássaros, a nobreza da montanha, o silêncio do silêncio.
A vida é-nos dada mas devemos aceitar que é inatingível e rejubilar-nos por aquilo que os nossos olhos, a nossa memória, a nossa mente consegue captar.
Era este o seu credo.
Eu próprio passei a vida ligado a actividades financeiras, sujando as mãos com o dinheiro, e é só agora que ele está morto que me consigo sentar no seu jardim e ouvir o que ele diz.
Só agora, depois da sua triste morte, mas, felizmente, você chegou.

trad: Maria João Delgado.