Principio harmônico

Quando vim para Londres no mês passado, decidi deixar de fumar por uma questão de principio. 8 euros por maço implica uma contribuição de cerca de 6 euros em impostos para financiar uma politica externa que nao vale a pena dissecar neste post. decidi no entanto meter a guita do tabaco numa lata para gastar em brinquedos musicais. a minha nova pancada é a harmônica pentatônica. Em primeiro lugar, comprei um daqueles gafanhotos-tipo-cabide à Bob Dylan para poder tocar as malhas de guitarra e harmônica ao mesmo tempo. Granda moca!! Custou-me 15 libras (5 dias de tabaco)!! Hoje fui comprar uma blues harp. Nem por acaso, o bacano que trabalha na loja de Denmark St. e que me ajudou, é um puto da velha guarda de Bromley que se lembra dos meus concertos no antigo Scruffy Murphys. meteu-me tudo à disposição e, principalmente, fez-me sentir importante, uma verdadeira vedeta. no entanto, não encontrei uma gaita de beiços que combine com G sharp minor na guitarra, o meu tom predilecto e a minha dica para a estação primavera/verão de 2006. Ora bolas! lá tive de tirar uma à sorte. comprei uma em G, para a qual só tenho uma música, o "Land of Winners". quando cheguei a casa voltei a confrontar-me com a inutilidade da minha compra e cheguei à conclusão que...lá terei de escrever algumas cancões que combinem com aquilo... e...de repente...fez-se luz e esta circunstãncia apresentou-se-me como a mais importante metáfora do mundo para qualquer artista. não é a arte que determina a logistica e só com muita humildade se pode aceitar o oposto, a afronta espiritual, a aparente supremacia material que está sempre em pol-position, que tem sempre o arbito no bolso, mas não é o que nos faz vibrar. É certo que só soa o que é tocado, mas...sejamos flexiveis enquanto criadores.

Lata

( Texto enviado por Lata Dog, musico Português residente em Londres, e
imagem gráfica de Nuno Gouveia, inspirado pelo mesmo).